domingo, 8 de maio de 2016

FALANDO SOBRE "CAPITÃO AMÉRICA: GUERRA CIVIL"...

A grande alegoria que Capitão América: Guerra Civil personifica é a imaginação moral, a única coisa que, de fato, permite-nos distinguir a respeito da pessoa humana, sua ordem, sua alma, seu papel social e sua capacidade em diferenciar o que realmente é bom ou mau, belo e feio, ofertando-nos uma visão geral da natureza humana e das leis que a regem. Somente essa imaginação moral pode nos dar a real ideia do cruel controle dos Estados totalitários em nossas vidas; por isso mesmo é tão combatida pela “educação” que tais Estados totalitários nos “oferecem”.







Meus alunos me perguntam: “Porque não gosto do PT ou de qualquer partido de Esquerda”? Inclua-se também qualquer pensamento ou doutrina semelhante. Costumo responder de forma simples e objetiva: “o PT é um partido de Esquerda, ponto final”. Todavia, décadas de uma educação, e isso se dá nas mais diferentes classes e instituições educacionais de nosso Brasil, voltada unicamente à dependência das estruturas de poder do estado e suas ideologias, não deixam que essa explicação se faça de modo fácil e contundente como deveria ser, e as explicações estendem-se à medida que as mentes se sujeitam a uma maneira única e rasa de pensar o mundo e a realidade; e quanto mais saliente mostra-se a mente de um indivíduo com relação a essas coisas, compreendemos o quão eficaz é o poder doutrinário de uma educação que transforma indivíduos em lobotomizados.

A verdade é que a Esquerda traz uma promessa maravilhosa, não se pode negar isso; daí a eficácia de sua sedução. É quase como a promessa de um Paraíso cristão, mas aqui mesmo na terra (nada mais herético, diga-se), onde Deus e anjos podem simplesmente ser substituídos por homens, e a graça pode ser alcançada sem os sacrifícios necessários para tanto. É uma maravilha, concordem. O Esquerdismo retira do homem a sua responsabilidade diante da existência, passando-a a um Estado que o representa ao ponto de pensar por ele mesmo... E aí começa o problema de um Jó sem Deus que o Marxismo sempre pretendeu implantar em cada homem existente na terra. O resultado disso não é menos que o caos moral e existencial, criado por um Estado totalitário que recebeu o “nosso” aval para agir descontroladamente, e esse é o maior trunfo de Capitão América: Guerra Civil (Marvel Studios, USA, 2016): mostrar a força destrutiva de um Estado totalitário, principalmente quando esse estado se mostra benevolentemente dedicado.
      
   Depois de uma ação desastrosa na Nigéria, com dezenas de “efeitos colaterais”, o Secretário de Defesa americano Thaddeus Ross (William Hurt), aquele mesmo que morre de amores pelo Hulk – que, aliás, como todos sabem, não está no filme –, resolve chamar Os Vingadores à razão e mostrar-lhes que, ao redor de suas ações, há vidas humanas inocentes pagando o pato, e faz isso mostrando imagens de suas ações em Nova York, Washington, Nigéria e nas fictícias Sokovia e Wakanda, o que é um belo tapa com luva de pelica tanto para a plateia quanto aos seus colegas diretores, como bem lembrou Isabela Boscov, que “não é correto que cenas de mortandade e destruição em massa sejam usadas para empolgar e fascinar sem que se pese o preço de cada vida tirada ou destruída”, assim como é feito também em Batman vs. Superman, de Zack Snyder, só quem com menos impacto e verossimilhança que os irmãos Anthony e Joe Russo, que dirigem o Guerra Civil. Por isso, a ação d’Os Vingadores, a partir da assinatura do Tratado de Sokovia, já acordado previamente entre 177 países, passará a ser monitorada e comandada pela ONU, e os heróis mais poderosos da terra não mais passarão a agir segundo as suas vontades ou necessidades alheias, ao menos que, como último recurso, sejam chamados a isso.

A notícia cai, como uma bomba, para todos os membros da “iniciativa”, mas principalmente sobre as mentes de seus membros mais antagônicos: Steve Rogers (Chris Evans), o Capitão América e Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem de Ferro. Não pensem os desavisados e cabeças-ocas que os acontecimentos desencadeados a partir daí é uma mera divergência de opiniões. As questões abordadas são muito mais profundas e verossímeis do que qualquer fã de filmes de super-heróis está acostumado, o que dá ao drama um conflito e o porquê que serão muito bem explorados durantes as quase três horas de filme. Para acrescer, vários embates psicológicos também são travados no filme: a culpa de Tony Stark por ter criado Ultron, e consequentemente todo o estrago que veio com ele; a morte da agente Carter, levando Rogers a um abismo existencial ainda mais fundo; a escolha entre família e dever, por parte do gavião Arqueiro (Jeremy Renner); o dever moral e o espírito de vingança, por parte do Pantera Negra (Chadwick Boseman); sem contar a descobertas e incertezas de Visão (Paul Bettany) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), entre outros.

E, por falar em bomba, é justamente um atentado com explosivos, supostamente perpetrado por Bucky Barnes (Sebastian Sten), o Soldado Invernal, que conduz o grupo de heróis a uma divisão que também se faz pelo meramente pessoal. E é aí que Capitão América: Guerra Civil se mostra superior em seus temas e argumentos ao Batman vs. Superman, de Zack Snyder. As motivações que conduzem às amizades cada vez mais fortes, bem como a rupturas desastrosa de outras afeições são muito mais creditáveis e possíveis, além de condizer em muito com a realidade que todo o Mundo viveu durante boa parte do Século XX e ainda vive. Os motivos políticos e as ideologias por detrás de tudo isso não se fazem menos verdadeiros. Ponto para a habilidade dos irmãos Russo em emendar tantas considerações políticas e morais sem nenhum tipo de moralismo, o que explica a dor com que muitos deles se tornam “bandidos”, aos olhos de muitos. E já que a amizade parece ser um tema central em toda a história de Capitão América: Guerra Civil, algumas delas resistem a tudo, como a do Homem de Ferro e o Coronel Rhodes, o Máquina de Combate; a de Rogers e Martim, o Falcão Negro; Visão e Feiticeira Escarlate oscilam em muito; Viúva Negra (Scarllet Johansson) e Gavião Arqueiro só enquanto suas capacidades de serem cínicos lhes são necessárias.     
Rogers, imbuído de um forte espírito conservador (não pode esperar algo diferente de um soldado) não aguarda que a realidade se adeque às tentativas de transformá-la, nem muito menos que esta se lhe venha de forma débil e furtiva; ele a busca de forma sagaz e, por isso mesmo, muitas vezes violenta, mas sem perder a razão e nem fazendo dela seu único trunfo. A dicotomia soldado/político se completa com a posição favorável de Tony Stark ao Tratado de Sokóvia, relegando ao estado a tarefa de controle de absolutamente tudo, inclusive a ação de Os Vingadores; o Homem de Ferro, sem nenhum medo de viver e fazer o que tem e precisa fazer, pelo que o conhecemos, parece ser a última pessoa da terra a se iludir com as promessas utópicas de uma política de controle, todavia, como podemos ver nas cenas em que ele visita seus “companheiros” na cela de uma prisão de segurança máxima, Stark tenta até mesmo busca inventar razões para essa crença infundada, num exemplo muito simples, embora bem construído, de como a sedução dos regimes totalitários tem efeito tanto sobre céticos quanto crentes. E, acima das amizades, está a verdade, que nada tem de relativista, pelo contrário, toda vez que ela é aludida as coisas só se encaminham às mais desastrosas consequências.

A grande alegoria que Capitão América: Guerra Civil personifica é a imaginação moral, a única coisa que, de fato, permite-nos distinguir a respeito da pessoa humana, sua ordem, sua alma, seu papel social e sua capacidade em diferenciar o que realmente é bom ou mau, belo e feio, ofertando-nos uma visão geral da natureza humana e das leis que a regem. Somente essa imaginação moral pode nos dar a real ideia do cruel controle dos Estados totalitários em nossas vidas; por isso mesmo é tão combatida pela “educação” que tais Estados totalitários nos “oferecem”. O amor de nossos “educadores” por Paulo Freire, e sua pedagogia de opressão, é um exemplo irrefutável de tudo isso. Tudo que Capitão América: Guerra Civil que nos mostrar é que devemos lutar ao máximo para que nossas liberdades pessoais, ou seja, nossa inteireza, nossa autonomia e nossa nobreza e que elas não sejam reduzidas, quando não destruídas. As liberdades pessoais são a única coisa e meio para fugirmos ao domínio de um Estado totalitário. Steve Rogers é em tudo imbuído desse espírito, Stark ainda está longe disso, mas se matem em boa parte de toda essa saga no caminho certo. E porque isso acontece? Porque inteireza, autonomia e nobreza são conquistas caras, cujo preço é o sofrimento de uma disciplina interior muito rígida em comum acordo com uma consciência reta e perspicaz, o que, para um soldado como Capitão América, é uma questão de fazer o que se tem que fazer pelos motivos certos, e fazê-lo já e em toda a sua inteireza. Rogers não tem tempo para fazer de conta que a realidade pode ser controlada, que o mal é uma questão de mero ponto de vista, e não uma coisa concreta e presente; por isso mesmo, não se dá ao luxo de fazer as coisas certas pelos motivos errados. Tudo isso ainda falta em Tony Stark e, para piorar, ao se deixar abater por uma culpa que não lhe é imputada de fato, decide observar o desalinho mundano como um mero observador, transferindo ao Estado essa responsabilidade que não é de ninguém senão sua. Para sorte de todos, o Homem de Ferro não permanece o tempo todo um candidato a eleitor do PT, e quando ele deixa com que a voz de sua liberdade interior lhe grite aos ouvidos, tudo parece se resolver como deve ser resolvido, todavia, quando as coisas se encaminham para uma razão ainda mais profundamente pessoal, aí... aí é outra história.

Poucos filmes do gênero deixaram seus fãs e detratores em um estado de paranoia tão grande quanto Capitão América: Guerra Civil. As cenas de luta são tão bem coreografadas quanto verossímeis, com exceção do que diz respeito a certas habilidades especiais de alguns indivíduos; o ritmo do filme é devidamente acelerado e desacelerado para mesclar momentos de tensão com outros da mais pura ação; tanto as histórias de cada participante, como o decorrer de todos os acontecimentos que os envolvem, são muito bem alinhavadas durante todo o filme. Além disso, os apaixonados pelo universo Marvel podem conferir em primeira mão o que lhes aguarda com os filmes solos de mais dois de seus heróis que tiveram participação tão fantástica quanto decisiva em todo o filme: o Homem Aranha (Tom Holland) e o fantástico Pantera Negra, mas ninguém rouba mais a cena, em meu humilde ponto de vista, do que o Homem-Formiga (Paul Rudd) que se mostrará um herói bem maior do que aparenta... e isso não é uma metáfora.

Para terminar, uma nota de utilidade pública: filme tem duas cenas pós-créditos, por isso, se vocês ainda não assistiram ao Capitão América: Guerra Civil, não saiam do cinema mesmo que o pessoal da limpeza lhes ameasse com vassouras. Façam valer as suas liberdades pessoais e, assim como Steve Rogers, tenham coragem para se exprimirem com pessoas que ainda tem seus pés numa realidade concreta... O resto é conversa mole pra comunista dormir. A propósito, quando me perguntarem por que eu não gosto do PT e seus semelhantes, vou mandar-lhes assistir ao Capitão América, para me poupar de muitas explicações e esperar que eles vejam o quão frágeis certas ideologias são diante da realidade; tão frágeis que até um “homem comum” pode colocar heróis um contra o outro... Quem viver verá.       





Salvador, Dia das Mães de 2016.   
        


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